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Autismo: a criança presa em si mesmo
Autismo: a criança presa em si mesmo

 

 

 

 

O Autismo: a criança presa em seu próprio corpo

 

 

É incrível a constatação do aumento do número de diagnósticos de crianças com Transtorno do Espectro Autista nos últimos 10 anos.

 

Isso assinala que, cada vez mais, menos sabemos sobre ele, o TEA, ou, ao menos, o quanto sabemos sobre o que não é o autismo.

 

Venho lendo, ouvindo, e participando de encontros sobre o Autismo, mas nos últimos dias ouvi uma frase que me levou à reflexão profunda sobre o assunto: “Toda criança é autista menos aquela que não é.”

 

É verdade, vivemos numa sociedade autista, onde as relações e as comunicação estão cada vez menos olho no olho, e a percepção do outro é cada vez mais a percepção de mim mesmo sem o ecoar do entorno.

 

Então, o que estamos fazendo com as nossas crianças?

 

A despeito das constatações genéticas, neurológicas, psiquiátricas e linguísticas sobre o TEA, pais, professores, fonoaudiólogos, médicos, estão catalogando as crianças por seus diagnósticos, não por suas habilidades.

 

Esquecemos que as crianças ainda estão em construção de sua subjetividade para estabelecer as relações que levarão à construção do saber. As escolas não lidam mais com os potenciais pessoais das crianças que acolhem, mas esperam que elas cheguem com rótulo laudado, pautadas no pressuposto das incapacidades acadêmicas.

 

Tenho encontrado alunos, em todos os níveis e séries, com habilidades específicas que, contudo, não conseguem aprender. Mas antes de pensar na inadequação da metodologia do ensino, os educadores pensam nas dificuldades ou “patologias impeditivas” que aquele aluno possui.

 

Primeiro, um professor português me disse que NINGUÉM É PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, não somos objetos. Me disse ainda, que NINGUÉM É DEFICIENTE, porque também não somos objetos. Temos inabilidades, e sendo assim, TODOS SOMOS INABILITADOS.

 

Assim é com a criança com autismo, ela possui inabilidades em diversas áreas acadêmicas e sociais, mas ela NÃO É DEFICIENTE.

 

Há relatos em todo o mundo que apontam para um desenvolvimento dessa pessoa com autismo, onde eles, produzem conhecimento tanto quanto àqueles que se julgam normais dentro da escala de normalidade que insistimos em manter.

 

Venho falando para meus alunos, há muito tempo, que devemos olhar o aluno além do uniforme escolar, ou daquela pessoa que acolhemos em sala de aula. Ele é mais do que apenas aquela imagem.

 

Cada pessoa traz em si uma maneira própria de se comunicar, de se relacionar, de aprender.

 

Gonzaguinha já cantava: “toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de tantas outras pessoas...”

 

Talvez fossemos se não tivéssemos adotado tantas regras, tantos parâmetros e tantos distanciamentos pelas imersões solitárias dentro da tecnologia que nos torna iguais, lineares, obtusos.

 

O autismo é um Transtorno, sim, não vou negar. Também é inabilitável, também não nego, mas cada pessoa com autismo É um ser aprendente, com suas especificidades e subjetividades únicas, intransferíveis e, como todo mundo, incompreensível.

 

Somos todos enigmas.

 

Eu gosto de pensar o autismo como uma mandala que se constrói de fora para dentro, tendo seu centro construído no final.

 

Nós, pessoas “normais”, nos construímos de dentro para fora a partir das relações que estabelecemos.

 

As pessoas com autismo são construídas de fora para dentro, pois é preciso estabelecer relações externas para alcançar um mundo indecifrável interno.

 

A pessoa com autismo tem uma história, tem experiências, tem possibilidades, mas tem sofrimentos e angústias, elas apenas não conseguem dividir com o outro sua internalidade.

 

Assim como o planeta possui cavernas inexploradas ou catalogadas, o Transtorno do Espectro Autista também o é: ainda uma incógnita, ainda há muito o que conhecer e explorar.

 

Mas, devemos pensar acima de tudo, que as pessoas com autismo não são laboratórios para que as exploremos em teses e estudos, em teorias por análise e erro, ou com experimentos que levem ao aumento do seu próprio sofrer.

 

A pessoa com autismo É sujeito, como todos nós o somos.

 

E isso, para mim, é o que basta!